Para falar sobre crises de
desenvolvimento, gosto de começar pela imagem do homem pós-moderno apresentada
pelo sociólogo Zygmunt Bauman:
O homem pós-moderno está
constantemente andando sobre um lago congelado. Sim, é possível andar sobre uma
fina camada de gelo, mas é necessário estar em constante movimento. Caso
contrário, quando esse homem fica muito tempo parado no mesmo lugar, a fina
camada se rompe e o homem cai no lago congelado. O que seria seu fim.
Podemos usar essa metáfora para
pensar que as crises de desenvolvimento, são aqueles momentos em que ficamos
paralisados e, por vezes, por esse motivo, caímos no lago congelado.
As crises de desenvolvimento nos
levam, inicialmente, para o mundo da dor, da solidão, do desespero, da total
perda de referências. Elas ocorrem quando algo se rompe em nosso caminho. É
como se abrisse um buraco no chão, bem na nossa frente e não houvesse
escapatória.
As crises são de diferentes naturezas: físicas ou psicológicas. São caraterizadas
por aqueles momentos em que ocorrem mudanças estruturais importantes em um
determinado ponto de nossa vida.
As crises biológicas ou físicas estão relacionadas com os desafios do
nosso corpo entre atingir seu ponto máximo de maturação e do seu declínio, até
a morte.
As crises psicológicas ocorrem na interação entre o indivíduo e o mundo
externo, nessa relação, é colocado à prova nosso sistema de crenças e valores, nosso
modo de atuar, como lidamos com os sentimentos. E como nós lidamos com as
respostas do mundo.
Pois estamos justamente numa
época onde não há ser humano sem crise.
Mas isso é muito bom, pois coloca
todos nós no mesmo patamar. Somos chamados à prova a todo instante e o desafio
que se impõe é ter que fazer as próprias
escolhas e sermos totalmente responsáveis por elas.
Quando enfrentamos uma crise,
nossa tarefa é perguntar: o que ela está querendo me dizer?
Temos que ficar alertas para
perceber as incoerências dos nossos pensamentos, sentimentos e ações.
Geralmente, as crises ocorrem quando essas três dimensões humanas estão
desorganizadas, desalinhadas.
Quando tomamos decisões que não
levam em conta a clareza de nosso pensar, sentir e agir, geralmente, não vamos
muito longe, pois essas decisões tendem a ser pouco sustentáveis ao longo do
tempo.
Então, desenvolver um
autoconhecimento cada vez mais profundo e buscar uma atuação ética, já que não
estamos sozinhos no mundo, são elementos chave para não nos deixarmos paralisar
diante uma crise. Caso contrário, o buraco no lago congelado nos engole.